sábado, 5 de setembro de 2015

Psicologia no Japão - Parte I - Um pouco de história

Desde que comecei a estudar Psicologia no Japão, muita gente me  pergunta como é, como funciona, o que tem de diferente,etc.
É muito difícil responder a essa pergunta já que eu não sou nenhum especialista em "História da Psicologia japonesa" ou mesmo em "Psicologia Japonesa". Porém, por estar morando no país, ter acesso à Psicologia aqui, e ser membro da Associação Japonesa de Psicologia, eu acabo por conhecer pouco sobre o assunto.

Pois bem, depois de ser perguntado várias vezes e pensar sobre isso, decidi escrever uma pequena série de posts para que as pessoas tenham ideia de como é a Psicologia no Japão.

Neste primeiro post vamos falar um pouco sobre a história da Psicologia no Japão. Nos próximos posts vamos tratar da situação atual e de questões específicas do país.

Em Japonês, Psicologia é chamada de Shinrigaku 心理学.
- "shin" ou "kokoro" pode ser traduzido como coração no sentido emotivo, espírito, alma, mente, ou algo como "centro dos pensamentos e emoções".
- "ri" pode ser traduzido como lógica, princípios, ou razão.
- "gaku" pode ser traduzido como estudo ou conhecimento.


Ou seja, psicologia em Japonês é algo como "estudo das razões da alma". Bem semelhante à etimologia da palavra "psicologia" em Português, que vem do grego ψυχή (psyché), "alma", e λογία (logos),"estudo"

Manual Japonês de Psicologia

A Psicologia chegou ao Japão no final do século 19 através de japoneses que fizeram seus doutorados nos Estados Unidos e depois, de volta ao Japão, deram início a laboratórios de psicologia experimental. Posteriormente, pesquisadores japoneses visitaram o laboratório de Wilhelm Wundt e levaram Psicologia da Gestalt ao país do sol nascente. 


As primeiras associações de Psicologia foram criadas durante os anos 1920, muitas não continuaram por falta de membros e recursos; outras continuam até hoje, como a Japanese Psychological Association (日本心理学会), criada em 1927.



O sistema educacional japonês era baseado no modelo alemão até o final da segunda guerra mundial, quando o Japão passou a adotar um modelo com base nos Estados Unidos. Muitos japoneses foram estudar psicologia nos EUA e a psicologia passou a fazer parte do currículo de educadores japoneses, da educação infantil à universidade.



A Psicologia Clínica demorou um pouco mais para chegar ao Japão, dando as caras nos anos 1950, através de psicólogos estadunidenses que foram ao Japão. Apesar de chegar a ter uma presença relevante nas Universidades e centros de pesquisa, a clínica psicológica não foi muito popular entre o público em geral no começo. A partir dos anos 90 um esforço maior em prol da popularização da psicologia clínica foi iniciado, e as associações de Psicologia têm dando continuidade a este esforço até os dias de hoje.


Edição em Espanhol de "Música" de Yukio Mishima.


Já a Psicanálise chegou no Japão oriunda da curiosidade de cientistas japoneses no começo do século 20, durante um período no qual o Japão importava muito das "ciências do ocidente".  Os trabalhos de Freud foram traduzidos para o Japonês em 15 volumes no ano de 1933.

É interessante ressaltar que o escritor Yukio Mishima tem um romance chamando Ongaku (音楽 - "música") sobre um psicanalista que trabalha em Tóquio. A obra traz várias referências a psicanalistas e psicólogos clínicos.


A Psicologia Analítica de Jung foi trazida ao Japão pelo psicólogo Hayao Kawai na segunda metade do século 20. Ele adaptou a teoria Junguiana ao país, além de introduzir a caixa de areia na terapia japonesa.


Em suma, a Psicologia chegou ao Japão junto à modernização do país no final do período Meiji e foi se integrando ao meio acadêmico do país durante os períodos seguintes, e continua se expandindo nos dias de hoje.

Por causa das óbvias diferenças entre o Japão e os Estados Unidos e países da Europa, muitos aspectos da psicologia tiveram que ser adaptados e novas teorias tiveram que ser desenvolvidas para que se compreenda devidamente as especificidades do extremo oriente. Mas esses são tópicos para a próxima parte da série "Psicologia no Japão".