terça-feira, 23 de dezembro de 2014

As bicicletas no Japão - O lado bom e o que quase ninguém comenta

Bicicletas são o meio de transporte mais comum no Japão, seguido do transporte público.

Pessoas de todos as classes sociais a utilizam diariamente para ir à escola, à faculdade, ao trabalho, para buscas os filhos pequenos na escola, para encontrar os amigos, para ir a encontros, etc.

Mulher com crianças na bicicleta, algo bem comum por aqui
Confesso que fiquei surpreso nas primeiras vezes que vi professores universitários, homens de meia idade vestindo ternos( provavelmente funcionários de empresas), mulheres com roupas de grife e bolsas Louis Vuitton, e mães de família com filhos andando de bicicleta. Foi algo até então completamente inimaginável para minha cabeça paulistana.

Até vir pro Japão, eu tinha a imagem da bicicleta sendo algo para crianças brincarem, e adultos que gostam de esporte ou ao menos tentam levar uma vida saudável. Não é bem isso que acontece no Japão.

A bicicleta é parte da cultura japonesa, andar de bicicleta é visto como natural. As pessoas simplesmente utilizam bicicletas no dia a dia por seus tantos benefícios, trata-se de um meio de transporte barato, rápido, prático, saudável, eficaz, bom para o meio ambiente... e por ai vai.

Até aqui nenhuma novidade, qualquer pesquisa simples no google sobre bicicletas no Japão revela os bons aspectos de andar de bicicleta e o quanto ela é popular no Japão, o que quase ninguém fala é que o Japão não é exatamente esse paraíso todo para se andar de bicicleta.

Pra quem faltou nas aulas de Geografia, fica o lembrete, o Japão é uma ilha montanhosa, são inumeras subidas e descidas com muita inclinação pra todos os lados.

O clima também não ajuda, o verão é úmido e ridiculamente quente (cerca de 40ºC), o que faz com que todos cheguem suados e cansados aos seus destinos, por mais próximos que sejam; já o inverno é tão frio que se o vento que ultrapassa facilmente suas grossas camadas de roupa e gela seus ossos não o fizer desistir de pedalar, a neve escorregadia vai.

Neve - muito bonita e pouco prática
Causas naturais são entendíveis, mas e a parte humana da coisa?

Bom, não existem tantas faixas exclusivas quanto você imagina, em geral é necessário dividir o espaço com os carros, que não são exatamente atenciosos com ciclistas, ou, no caso mais comum, andar pelas calçadas dividindo espaço com pedestres.

Apesar das ruas terem asfalto muito bom e por isso serem muito boas, as calçadas são feitas para pedestres, possuem muitos desníveis e obstáculos, como postes e pontos de ônibus, que prejudicam muito o ciclista.

Acidentes são comuns, desde batidinhas e raspadas leves ( já vi, cometi, e ouvi muitos casos), batidas que danificam a bicicleta, carro, machucam pessoas, até casos de gente que tem que ir pro hospital (já aconteceu comigo) e ficar internado por semanas ( já aconteceu com um amigo próximo).

Estacionar a bicicleta na cidade é um estorvo, não existem muitos estacionamentos públicos gratuitos, e os estacionamentos pagos acabam ficando lotados, o que sobra é estacionar em local proibido correndo o risco de ter a bicicleta guinchada e ter que pagar 2300 ienes (cerca de 23 doláres) para tê-la de volta.


Por mais que existam dificuldades, as pessoas ainda assim insistem em andar de bicicleta por aqui. Simplesmente porque funciona.

Mas... e o transporte público?
Bom, o transporte público é muito eficiente, rápido e cobre boa parte das cidades grandes. Mas também é muito caro, a passagem de ônibus em Kyoto por exemplo custa ¥230, cerca de US$ 2,30 ou mais de 5 reais.
Quem mora a até alguns quilometros da faculdade ou trabalho acaba optando pela bicicleta para uso diário pelo custo/benefício da mesma. Para passeios eventuais como barzinho, cinema, balada, jantar fora, etc. a bicicleta ainda tem vantagens sobre o transporte público por ser mais barata e não ter limitações quanto à hora de voltar pra casa, já que o transporte público para por volta das 23:30 por aqui.
Como eu disse, o transporte público cobre boa parte das cidades grandes,  em lugares mais afastados do centro, onde existem poucas estações de trem e metrô, a maneira mais prática de chegar nessas estações é a bicicleta.

No horário de pico as estações estão tão cheias
 que os funcionários têm que empurrar os passageiros para dentro dos trens

Mas... e os carros?
As grandes cidades do Japão - Tóquio, Osaka, Nagoya, etc. são bastante densas, ou seja, são muitos moradores para pouco espaço. Caso não utilizassem bicicletas mas sim carros, o transito seria lento, barulhento e o ar dessas cidades seria muito poluído.  Além disso, seus moradores teriam que gastar quantias enormes comprando carros, mantendo-os, e gastando tempo e dinheiro com estacionamentos.

Consegue imaginar uma coisa dessas?