quarta-feira, 24 de fevereiro de 2016

Psicologia no Japão parte II - Situação atual e temas específicos

Este post é continuação do post Psicologia no Japão - Parte I - Um pouco de história, clique aqui para ler.

A Psicologia no Japão, assim como a Psicologia no Brasil ou em outros países é bastante diversa. Assuntos diversos são estudados em Universidades desde Okinawa até Hokaido. Apesar disso, pode-se dizer que algumas tendências prevalecem no Japão e alguns assuntos tendem a ser mais estudos e alguns métodos a ser mais utilizados.



Para entender como é a Psicologia no Japão é absolutamente necessário lembrar que após o termino da segunda guerra mundial, o Japão foi ocupado pelos EUA, sofreu grandes modificações internas e até hoje os EUA são o país que mais influencia o Japão. Por causa disso muitas instituições, como o governo e as Universidades foram reestruturadas seguindo um modelo mais americanizado. Ou seja, a Psicologia, como uma disciplina que depende das universidades para ser estudada, pesquisada e ensinada, segue um modelo fortemente influenciado pelos EUA.

A começar pelo método, seja na Psicologia Clínica ou Psicologia Social, ao contrário do que acontece no Brasil onde estudos qualitativos são comuns, a maioria dos estudos em Psicologia no Japão são quantitativos e apoiam-se fortemente em análises estatísticas. Além disso, seguindo as novas tendências mundiais, muitos estudos são conduzidos utilizando tecnologias atuais importadas de outras áreas. Modelos matemáticos feitos com programação, análise de big data, técnicas de estudo comuns na neurologia como eletroencefalografia, análises de DNA, interação entre humanos e máquinas, etc.

Se bem me recordo e se minhas recentes buscas no google estão certas, a Psicologia no Brasil  tem a Filosofia como base, e é fortemente alinhada com questões sociais. No Japão, a Psicologia tem base mais forte na Biologia e muitos estudos giram em torno de processos comportamentais básicos como o processo de atenção, aprendizagem, memória, orientação espacial, formação de classes cognitivas, estereótipos, etc. 
Apesar disso, assim como no Brasil, existem estudos sobre questões sociais locais específicas, listamos algumas delas:

Hikikomori: O ministério da saúde, trabalho e bem estar do Japão define hikikomori como pessoas que se recusam a sair de casa e se isolam da sociedade por um periodo superior a seis meses. A maioria são homens por volta dos 20 anos que tem dificuldades em se adaptar à sociedade Japonesa. 
Atualmente não há um consenso a respeito do que torna uma pessoa hikikomori. No começo era comum que relacionassem hikikomori com disturbios psíquicos, mas há uma tendência recente a considerarem as este fenômeno como tendo origems socio-culturais e ter relações com as influências da globalização na sociedade Japonesa.

Globalização: Valores ocidentais têm sido importados para o Japão e mudanças estruturais têm ocorrido no páis, costumes e tradições estão sendo modificadas. Isso tem mudado a maneira com que as pessoas interagem com a sociedade, consequentemente provocando mudanças em suas psiquês. Muitos psicológos têm se dedicado a invertigar como estas mudanças estão acontecendo.

Envelhecimento populacional: O Japão é o país com a maior proporção de cidadãos idosos do mundo. E essa proporção tende a aumentar nos anos seguintes, o que traz diversas consequências para a sociedade, economia, cultura,etc. Psicólogos de diversas sub-áreas têm se dedicado a estudar desde como isso influencia as interações 

Apesar de diferente do que acontece em outros países, a Psicologia no Japão segue tendências mundiais sem deixar de atentar para o contexto específico do Japão. Claro que um simples post de blog não é suficiente para falar de todos os aspectos específicos da Psicologia Japonesa, mas espero que possam ter uma ideia de como as coisas funcionam do outro lado do mundo.

Recomendo visitar os websites das associações Japonesas de Psicologia para conhecer mais a fundo os tipos de pesquisa que se faz no Japão em cada sub-área da Psicologia.

The Japanese Psychological Association

The Japanese Society of Social Psychology

Japan Society of Developmental Psychology

Outras associações

13 comentários:

  1. Opa Igor, estava aguardando por sua postagem! :)

    É, eu já esperava mesmo que a Psicologia no Japão fosse bem influenciada / seguisse as tendências norte-americanas.

    E sim, você está certo, embora nos primórdios da Psicologia no Brasil a influência era da psicologia norte-americana, no geral a nossa base é a Filosofia, a Sociologia/Ciências Sociais e Antropologia.

    Enfim, gostaria de saber duas coisas, se puder responde-las, claro: 1) Há alguma dificuldade maior em realizar uma pesquisa qualitativa ou "quanti-quali" no Japão? 2) A Psicologia no Japão é uma profissão regulamentada (como, por exemplo, no Brasil) ou é uma "profissão geral" (como na Argentina, por exemplo)?

    Abraços!

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    1. Olá Ludmila, obrigado pelo comentário.
      1) depende muito do laboratório/grupo de estudos, em alguns pesquisas mais qualitativas são bem vindas, em outros não...
      2) Como terapeuta/psicologo clínico é necessária a obtenção de uma licença especial. Para as outras aplicações da psicologia, como em escolas e empresas, eu não sei te responder.

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  2. Ola, Igor. Atualmente estou cursando pós-graduação em tcc, e gostaria de tentar outra pós na área ou um mestrado. Tenho uma ideia de projeto a ser trabalhado, mas estou tendo dificuldade em saber quais faculdades aceitariam projetos de psicologia, quais orientadores etc. Se possível, poderia pedir sua ajuda? Meu email é akmb1987@gmail.com
    Desde já te agradeço pela atenção é pelas postagens, já ajudaram muito!

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    1. Olá Anne, obrigado pelo comentário!
      Em geral estudos em psicologia clínica são desenvolvidos nos departamentos de educação japoneses. Porém, TCC não é a linha mais comum.
      Nesta página estão listados links para todas as universidades no Japão em que se é possível estudar Psicologia:
      http://www.psych.or.jp/interest/univ.html

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  3. Igor você poderia falar sobre os ikikomori? E se tem diferença de uma fobia social por exemplo

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  4. Olá!
    É diferente de fobia social, mas algumas vezes pessoas com essa síndrome também possuem fobia social. Depressão também parecer ser bastante comum entre eles.
    Os estudiosos da área teorizam que é uma questão social japonesa que está "criando" hikikomoris, mas também existem alguns casos identificados em outros países.
    Eu recomendo a wikipedia (em inglês) para ter uma idea um pouco melhor sobre a síndrome.
    https://en.wikipedia.org/wiki/Hikikomori

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  5. Olá Igor. Acabo de conhecer seu blog e gostei muito. Parabenizo-o pelo trabalho.
    Bom, sou psicóloga, formada pela PUC São Paulo e pós Latu Senso em Psicopatologia Fenomenológica, pela Santa Casa. Atualmente atuo na área, porém, caso o visto de longa permanência seja concedido, residirei no Japão nos próximos dois anos. No entanto, trabalharei em fábrica, como a maior parte dos brasileiros.
    Tenho consciência da impossibilidade de atuar como psicóloga em terras nipônicas apenas com a tradução de documentos e sobre as condições de algumas bolsas de estudos, tais como: o limite de idade e a exclusividade do processo seletivo para não residentes. Neste contexto, penso em algum tipo de contribuição em que possa mantém o vínculo com a psicologia no período que durar a vivência como decasségui e, concomitantemente, ofertar algum conteúdo digital que contemple dúvidas e esclarecimentos sobre a histórica e peculiar experiência de tantos latinos no Japão. Mas, como você poderá notar, no momento são apenas especulações e esboços. Quem sabe, não é mesmo ? Kk
    Assim, gostaria de saber se ainda reside no Japão e quanto a disponibilidade para um possível diálogo, talvez via email. Vi que postou alguns sites de referência e gostaria de saber se teria uma bibliografia básica, em português (preferencialmente), sobre a histórica da psicologia, o sistema de saúde e ofertas de atenção à saúde mental no Japão. Ah, também gostaria de saber se conhece a produção de Kimura Bim (creio que esteja fora de sua área de pesquisa, mas caso tenha algum interesse e queira compartilhar ...)
    Enfim, Igor, desde já agradeço a atenção e desejo-lhe sucesso.

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  6. Olá Igor. Acabo de conhecer seu blog e gostei muito. Parabenizo-o pelo trabalho.
    Bom, sou psicóloga, formada pela PUC São Paulo e pós Latu Senso em Psicopatologia Fenomenológica, pela Santa Casa. Atualmente atuo na área, porém, caso o visto de longa permanência seja concedido, residirei no Japão nos próximos dois anos. No entanto, trabalharei em fábrica, como a maior parte dos brasileiros.
    Tenho consciência da impossibilidade de atuar como psicóloga em terras nipônicas apenas com a tradução de documentos e sobre as condições de algumas bolsas de estudos, tais como: o limite de idade e a exclusividade do processo seletivo para não residentes. Neste contexto, penso em algum tipo de contribuição em que possa mantém o vínculo com a psicologia no período que durar a vivência como decasségui e, concomitantemente, ofertar algum conteúdo digital que contemple dúvidas e esclarecimentos sobre a histórica e peculiar experiência de tantos estrangeiros no Japão. Mas, como você poderá notar, no momento são apenas especulações e esboços. Quem sabe, não é mesmo ? Kk
    Assim, gostaria de saber se ainda reside no Japão e quanto a disponibilidade para um possível diálogo, talvez via email. Vi que postou alguns site de referência e gostaria de saber se teria uma bibliografia básica, em português (preferencialmente), sobre a histórica da psicologia, o sistema de saúde e ofertas de atenção à saúde mental no Japão. Ah, também gostaria de saber se conhece a produção de Kimura Bim (creio que esteja fora de sua área de pesquisa, mas caso tenha algum interesse e queira compartilhar ...).
    Enfim, Igor, desde já agradeço a atenção e desejo-lhe sucesso.

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  7. Estou na mesma situação que a Rosana Nasseh, mas tenho visto que alguns psicólogos brasileiros estão oferecendo aconselhamento para os brasileiros que residem no Japão, existem tanto projetos com algumas prefeituras (Hamamatsu, por exemplo), quanto projetos autônomos (projeto Sakura e projeto Tsuru). Você sabe sobre essa atuação, Igor?

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    1. Infelizmente não tenho informações sobre a psicologia dentro da comunidade brasileira...

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  8. Olá Igor, tudo bem? Tenho me interessado pela Psicologia aí no Japão desde minha graduação. Fui dekassegui e senti na pele como a saúde mental precisa ser melhor divulgada e disseminada entre a comunidade brasileira, assim como a nipônica. Gostei muito das informações que passou nas postagens e espero que continue com elas, pois com o seu conhecimento e informações podemos ter um panorama mais abrangente do contexto da Psicologia nos dois países.

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  9. Olá, sou universitária e estou fazendo um trabalho sobre a psicologia no Japão e queria muito entrar em contato com vc.
    Tem Instagram ou algo assim?

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