Pessoas de todos as classes sociais a utilizam diariamente para ir à escola, à faculdade, ao trabalho, para buscas os filhos pequenos na escola, para encontrar os amigos, para ir a encontros, etc.
Mulher com crianças na bicicleta, algo bem comum por aqui |
Até vir pro Japão, eu tinha a imagem da bicicleta sendo algo para crianças brincarem, e adultos que gostam de esporte ou ao menos tentam levar uma vida saudável. Não é bem isso que acontece no Japão.
A bicicleta é parte da cultura japonesa, andar de bicicleta é visto como natural. As pessoas simplesmente utilizam bicicletas no dia a dia por seus tantos benefícios, trata-se de um meio de transporte barato, rápido, prático, saudável, eficaz, bom para o meio ambiente... e por ai vai.
Até aqui nenhuma novidade, qualquer pesquisa simples no google sobre bicicletas no Japão revela os bons aspectos de andar de bicicleta e o quanto ela é popular no Japão, o que quase ninguém fala é que o Japão não é exatamente esse paraíso todo para se andar de bicicleta.
Pra quem faltou nas aulas de Geografia, fica o lembrete, o Japão é uma ilha montanhosa, são inumeras subidas e descidas com muita inclinação pra todos os lados.
O clima também não ajuda, o verão é úmido e ridiculamente quente (cerca de 40ºC), o que faz com que todos cheguem suados e cansados aos seus destinos, por mais próximos que sejam; já o inverno é tão frio que se o vento que ultrapassa facilmente suas grossas camadas de roupa e gela seus ossos não o fizer desistir de pedalar, a neve escorregadia vai.
Neve - muito bonita e pouco prática |
Bom, não existem tantas faixas exclusivas quanto você imagina, em geral é necessário dividir o espaço com os carros, que não são exatamente atenciosos com ciclistas, ou, no caso mais comum, andar pelas calçadas dividindo espaço com pedestres.
Apesar das ruas terem asfalto muito bom e por isso serem muito boas, as calçadas são feitas para pedestres, possuem muitos desníveis e obstáculos, como postes e pontos de ônibus, que prejudicam muito o ciclista.
Acidentes são comuns, desde batidinhas e raspadas leves ( já vi, cometi, e ouvi muitos casos), batidas que danificam a bicicleta, carro, machucam pessoas, até casos de gente que tem que ir pro hospital (já aconteceu comigo) e ficar internado por semanas ( já aconteceu com um amigo próximo).
Estacionar a bicicleta na cidade é um estorvo, não existem muitos estacionamentos públicos gratuitos, e os estacionamentos pagos acabam ficando lotados, o que sobra é estacionar em local proibido correndo o risco de ter a bicicleta guinchada e ter que pagar 2300 ienes (cerca de 23 doláres) para tê-la de volta.
Por mais que existam dificuldades, as pessoas ainda assim insistem em andar de bicicleta por aqui. Simplesmente porque funciona.
Mas... e o transporte público?
Bom, o transporte público é muito eficiente, rápido e cobre boa parte das cidades grandes. Mas também é muito caro, a passagem de ônibus em Kyoto por exemplo custa ¥230, cerca de US$ 2,30 ou mais de 5 reais.
Quem mora a até alguns quilometros da faculdade ou trabalho acaba optando pela bicicleta para uso diário pelo custo/benefício da mesma. Para passeios eventuais como barzinho, cinema, balada, jantar fora, etc. a bicicleta ainda tem vantagens sobre o transporte público por ser mais barata e não ter limitações quanto à hora de voltar pra casa, já que o transporte público para por volta das 23:30 por aqui.
Como eu disse, o transporte público cobre boa parte das cidades grandes, em lugares mais afastados do centro, onde existem poucas estações de trem e metrô, a maneira mais prática de chegar nessas estações é a bicicleta.
No horário de pico as estações estão tão cheias que os funcionários têm que empurrar os passageiros para dentro dos trens |
Mas... e os carros?
As grandes cidades do Japão - Tóquio, Osaka, Nagoya, etc. são bastante densas, ou seja, são muitos moradores para pouco espaço. Caso não utilizassem bicicletas mas sim carros, o transito seria lento, barulhento e o ar dessas cidades seria muito poluído. Além disso, seus moradores teriam que gastar quantias enormes comprando carros, mantendo-os, e gastando tempo e dinheiro com estacionamentos.
Consegue imaginar uma coisa dessas?