quarta-feira, 26 de abril de 2017

Invertendo o mito da corrupção

Muita gente comenta, com olhares de admiração, o quão seguro o Japão é, o quão honesto e trabalhador o povo Japonês é e o quanto o Japão deu certo e é rico por causa desses atributos da população. É verdade que o povo Japonês é honesto e trabalhador, mas é o único povo honesto e trabalhador, e não é exatamente por isso que o país é rico.

Há também pessoas que possuem o mesmo tipo de admiração com os Alemães, Suécos, Ingleses e assim por diante.

Quando se fala em países mais pobres, como o Brasil, Bolivia, India, Russia, etc. fala-se muito sobre violência, desonestidade, pobreza e quando se pergunta a causa, fala-se muito em corrupção.

É interessante que quando se vive fora do Brasil percebemos que as coisas não são bem assim. Mas é bem difícil explicar e discutir sem ser especialista nessas questões.

Por isso, hoje vou postar aqui um texto que achei muito interessante de um antropologo chamado Jason Hickel, traduzido por um grande amigo meu Chamado Bruno do Carmo.

O original você pode conferir aqui, e a postagem original da tradução aqui.

Invertendo o mito da corrupção
A corrupção não é, de longe, o principal fator que perpetua a pobreza nos países do Hemisfério Sul

Traduzido por: Bruno Bortoloto do Carmo.


A Transparência Internacional publicou recentemente seu último e anual (ref. 2013) Índice de Percepção de Corrupção (Corruption Perceptions Index — CPI), disposto em um atraente mapa-múndi no qual as nações menos corruptas aparecem em um amarelo alegre e jovial e as nações mais corruptas em um marcante e estigmatizante vermelho. Esse Índice define a corrupção como “o abuso do poder público para fins privados”, e utiliza dados de 12 instituições diferentes incluindo o Banco Mundial, a Freedom House e o Fórum Econômico Mundial.
Quando vi o mapa pela primeira vez fiquei preso ao fato que a maior parte dos amarelos eram, coincidentemente, países ricos do Ocidente, incluindo os Estados Unidos e o Reino Unido, enquanto os vermelhos cobriam quase todo Hemisfério Sul, contando com países como Sudão do Sul, Afeganistão e Somália marcados com um vermelho especialmente mais escuro.
Essa divisão geográfica se encaixa perfeitamente naquele ponto de vista mais tradicional, na qual a corrupção seria um flagelo de países subdesenvolvidos (sugerindo imagens clichês de ditadores na África ou subornos na Índia). Mas esse raciocínio está correto?
Muitas organizações internacionais de desenvolvimento alegam que a incessante pobreza no Hemisfério Sul seria causada em grande parte pela corrupção governos locais e seus funcionários. Em 2003 essas questões foram levadas à Convenção das Nações Unidas contra Corrupção afirmando que, por mais que a corrupção existisse em todos os países, esse “fenômeno maligno” era “mais destrutivo” no hemisfério sul, onde era um “elemento chave no mau desempenho econômico e um obstáculo maior para o alívio da pobreza e desenvolvimento”.
Existe apenas um problema nessa teoria: isso simplesmente não é verdade.

Corrupção, à moda das superpotências

De acordo com o Banco Mundial, corrupção na forma de subornos e roubos por agentes do governo, o principal alvo da Convenção das Nações Unidas, custa, ao ano, a países de subdesenvolvidos algo em torno de 20 a 40 bilhões de dólares. Mas é uma proporção extremamente pequena — algo em torno de 3 por cento — em relação ao fluxo ilícito total que vaza dos cofres públicos. Por outro lado, companhias multinacionais roubam de países subdesenvolvidos mais de 900 bilhões a cada ano por meio de evasão de impostos e outras práticas ilícitas.
Essa enorme evasão de divisas é facilitada por um sistema financeiro sombrio que inclui paraísos fiscais, empresas fantasmas, contas anônimas e fundações falsas, tendo a cidade de Londres como coração desse sistema. Mais de 30 por cento dos investimentos globais estrangeiros são colocados em paraísos fiscais que hoje, como um todo, ocultam um sexto do total das riquezas privadas globais.
Essa massiva — e, de fato, fundamental — causa da pobreza do mundo subdesenvolvido, não aparece na definição tradicional de corrupção e está ausente na Convenção das Nações Unidas; quando muito, aparece raramente nos programas das organizações internacionais de desenvolvimento.
Sendo cidade de Londres o centro dessa global rede de paraísos fiscais, como o Reino Unido aparece com um Índice de Corrupção limpo?
A questão que mais perturba é a de uma cidade imune a leis de diversas nações democráticas e livre de um controle parlamentar. Como resultado desse status especial, a cidade de Londres mantém uma série de tradições plutocráticas. Pegue o processo eleitoral, por exemplo: mais de 70 por cento dos votos durante as eleições municipais vão não para cidadãos, mas para corporações — em sua maioria bancos e empresas do capital financeiro. Quanto maior a corporação, mais votos consegue. Isso leva o corporativismo personalista estadunidense a um outro nível.
Para ser justo, esse tipo de corrupção não está totalmente deslocada em um país que uma família real nos moldes feudais detém 120.000 hectares de terras por todo país e suga todos os anos em torno de 65,7 milhões de dólares de fundos públicos. E ainda tem o parlamento, no qual a Casa dos Lordes é composta não por eleição, mas por nomeações, com 92 assentos hereditários para famílias da aristocracia, 26 para líderes do maior setor religioso do país, e diversos outros colocados à venda para multimilionários.
A corrupção nos Estados Unidos é somente ligeiramente menos ruidosa. Enquanto os assentos do congresso não estão totalmente dispostos à venda, o estabelecimento da Citzens United vs FEC (Cidadãos Unidos contra a Comissão de Eleições Federais) permite que corporações gastem ilimitadas somas de dinheiro em campanhas políticas para garantir que seus candidatos preferidos sejam eleitos, prática justificada sob a bandeira Orwelliana do “liberdade de expressão”.

O fator da pobreza

Para a Convenção das Nações Unidas é ponto pacífico que a pobreza em países subdesenvolvidos é causada pela corrupção. Mas a corrupção que estamos mais preocupados tem suas raízes em países que estão coloridos em amarelo no mapa do Índice de Corrupção, não em vermelho.
O sistema de paraísos fiscais não é o único culpado. Nós sabemos que a crise financeira global de 2008 foi acelerada por uma corrupção sistêmica entre funcionários públicos nos Estados Unidos que estavam intimamente ligadosaos interesses de empresas da Wall Street. Além do deslocamento de trilhões de dólares de cofres públicos para bolsos particulares por meio de resgates, a crise limpou uma enorme fatia da economia global e teve efeito arrasador em países subdesenvolvidos quando as demandas por exportação secaram, causando massivas ondas de desemprego.
Uma história parecida pode ser contada a partir do escândalo da Libor (London Interbank Offered Rate), quando grandes bancos de Londres manipularam as taxas de juros e sugaram em torno de 100 bilhões de dólares de pessoas em todo território da Grã Bretanha. Poderiam esses escândalos serem definidos como qualquer coisa que não o mau uso do poder público para benefícios particulares? O alcance global desse tipo de corrupção faz o suborno mesquinho e o roubo em países subdesenvolvidos parecer algo provinciano, quando posto em comparação.
Mas isso é apenas a ponta do iceberg. Se nós realmente queremos entender como a corrupção leva países subdesenvolvidos à pobreza, nós precisamos começar olhando as instituições que controlam a economia global, como o FMI, o Banco Mundial e a Organização Mundial de Comércio.
Durante os anos 1980 e 1990, as políticas que essas instituições impingiram no Hemisfério Sul, seguindo o Consenso de Washington, levaram os índices de crescimento de renda per capita a um colapso de quase 50 por cento. O economista Robert Pollin estimou que durante esse período países subdesenvolvidos perderam em torno de 480 bilhões de dólares por ano em PIB potencial. Seria difícil superestimar a devastação que esses números representam às populações desses países. Contudo, corporações ocidentais tem sido tremendamente beneficiadas por esse processo, ganhando acesso a novos mercados, mão de obra barata e matérias primas, além de novos polos para fuga de capitais.
Essas instituições internacionais mascaram-se como mecanismos para governança pública, mas, na verdade, são profundamente antidemocráticas; é por isso que conseguem impor políticas que tão diretamente violam o interesse público. Os poderes de voto do FMI e do Banco Mundial são divididos para que países subdesenvolvidos — que em são vasta maioria da população mundial — juntos tenham algo menos que 50 por cento dos votos, enquanto o Tesouro dos Estados Unidos detém, de fato, o poder de veto. Os líderes dessas instituições não são eleitos, mas nomeados pelos Estados Unidos e Europa, com diversos chefes militares e executivos da Wall Street entre eles.
Joseph Stiglitz, antigo economista chefe do Banco Mundial, fez denúncias públicas dessas instituições como sendo as menos transparentes que ele já se defrontou. A falta de prestação de contas dessas instituições também é chocante, enquanto, ao mesmo tempo, usufruem de especial status de “imunidade de jurisdição” que as protegem contra prováveis processos públicos quando suas políticas falham, independente do mal que causam.

Transferindo a culpa

Se essas formas de governo ocorressem em qualquer nação do Hemisfério Sul, o Ocidente bradaria por corrupção. Contudo, corrupção é normalizada nos centros de comando da economia global, perpetuando a pobreza em países subdesenvolvidos do mundo enquanto a Transparência Internacional direciona sua atenção a qualquer outro lugar.
Mesmo que decidíssemos focar em corrupções localizadas em países subdesenvolvidos, teríamos que aceitar que isso não existe em um vácuo geopolítico. Muitos dos famosos ditadores desses países — como Augusto Pinochet, Mobutu Sese Seko e Hosni Mubarak — foram apoiados por um fluxo constante de financiamentos do Ocidente. Hoje, não são poucos os regimes corruptos que foram instalados ou fortalecidos pelos Estados Unidos, entre eles o Afeganistão, o Sudão do Sul, e os senhores da guerra da Somália — três dos Estados pintados em vermelho escuro no mapa do Índice de Corrupção.
Isso levanta uma questão interessante: quem é mais corrupto, o ditador mesquinho ou a superpotência que o instala? Infelizmente, a Convenção das Nações Unidas convenientemente ignora essas dinâmicas, e o mapa do Índice de Corrupção nos leva a acreditar, incorretamente, que a corrupção de cada país é puramente limitada à suas fronteiras nacionais.
A corrupção é, com certeza, um dos principais motores da pobreza. Mas se quisermos atacar o problema com seriedade, o Índice de Corrupção não será de muita ajuda. A maior causa da pobreza em países subdesenvolvidos não se encontra em subornos ou roubos, mas na corrupção que é endêmica a um sistema de governo global, as redes de paraísos fiscais, e os setores bancários de Nova York e Londres. Está na hora desmistificar a corrupção em seu coração e começar a demandar transparência onde é realmente importante.
Sobre o autor: Jason Hickel é Doutor em Antropologia pela Universidade de Virgínia. O presente texto foi uma conferência dada na London School of Economics, e publicado originalmente no site do aljazeera em 01 fev. 2014. Twitter: @jasonhickel

sábado, 22 de abril de 2017

O que fazer em Kyoto em um dia?


Muita gente e pergunta o que fazer em Kyoto, roteiros e coisas do tipo. Acabei organizando o que eu costumo recomendar para quem visita Kyoto.

Alguns pontos da cidade são muito famosos e praticamente todo turista quer visitar. Tentei colocar o maior número possível de lugares neste guia, em uma ordem que faça sentido.

A ordem foi pensada para alguém que parte da estação de Kyoto ou de algum lugar no leste da cidade. Caso você esteja partindo do Oeste da cidade a ordem oposta talvez faça mais sentido.

Como se deslocar pela cidade
Existem trens e metrô em Kyoto, porém as linhas não são tão desenvolvidas como em Tokyo ou Osaka. Tavez seja interessante andar de trem para chegar nos poucos lugares em que há uma estação nos arredores, porém a melhor opção em Kyoto é se deslocar de ônibus, pelo preço e disponibilidade.

O passe diário de ônibus (一日乗車券 ichinichijoushaken) custa 500 ienes, pode ser adquirido nas estações ou mesmo dentro do ônibus ( basta pedir para o motorista) e com ele é possível tomar quantos ônibus forem necessários e chegar a praticamente qualquer um dos lugares famosos.
Ônibus de Kyoto




Onde comer

Existem muitas atividades possíveis em Kyoto, muitos templos, santuários e outras atividades culturais. Certamente não dá para isitar tudo em um dia ou mesmo em uma semana. É preciso correr de um lugar para o outro e economizar tempo.

Por causa disso seria mais aconselhável simplesmente comprar comida em um supermercado ou loja de conveniência e comer em algum parque, ou ao longo do rio, não?

Porém, Kyoto é uma cidade turística e universitária, e por consequencia disso possui muitos restaurantes espalhados pela cidade, com os mais diversos tipos de culinária.

Na minha singela opinião, o ideal é comer algo rápido no café da manhã e almoço, e ir para algum restaurante mais interessante no Jantar. Mas isso depende de você.

Se você quer algo específico recomendo consultar a página de restaurantes do trip advisor ( link aqui), lá você consegue várias informações sobre localização de restaurantes e reviews. Porém não se guie pelo ranking de restautantes, pois é bastante enviesado.

Dois tipos de culinária se destacam em Kyoto, "obanzai" que é um tipo de culinária com muitas conservas e cozidos, você pode conferir uma lista de restaurantes neste link; o outro tipo de culinária que se destaca é o de "kyo yasai" que é culinária feita com vegetais que só existem em Kyoto, eu recomendo um restaurante chamado Isomatsu (link aqui), e na mesma rua existem outros restaurantes do tipo.

Se você é vegan/vegetariano neste link há uma lista de bons restaurantes.

Outro restaurante famoso em Kyoto é o "Fire ramen", isso mesmo, macarrão tipo lamen com fogo. Mais informações neste link.

Por falar em lamen, existe uma rede de restaurantes chamada tenkaippin (天下一品) que é altamente recomendável. Além disso, no décimo andar do prédio da estação de Kyoto existem vários restaurantes de lamen. Recomendo todos.
Obanzai Ryori


Roteiro

Caso você tenha apenas um dia para conhecer Kyoto,e é sua primeira vez na cidade, eu recomendo este roteiro. Dá para ver os templos e lugares mais famosos e aproveitar bem a cidade, mas como o tempo é curto, é preciso correr um pouco e não enrolar em nenhum lugar. 

Comece o dia lá pelas 9 da manhã visitando o templo Kyomizu dera, um dos templos mais famosos da cidade. A ladeira que leva ao templo é cheia de lojas de lembrancinhas e doces típicos de Kyoto. Além do templo em si, existe também um pequeno santuário chamado Jishu que é bastante famoso.

Kyomizu dera durante o pôr do sol.


Após terminar a visita, vá até o Santuário yasaka, passando por dentro do bairro, assim você pode aproveitar a atmosfera de Japão tradicional. Além disso há também um pequeno parque chamado Maruyama koen. Mapa neste link

Saindo pela entrada principal do Santuário yasaka você estará na avenida Shijo, parte principal do tradicional bairro de Gion. Daí vale a pena explorar um pouco as lojas, restaurantes e ruas.
Seguindo a avenida por cerca de dez minutos você chega no Rio Kamo, onde é possível sentar na margem, relaxar um pouco e comer um lanche ou tomar um café.

Se tudo correr bem, você deve terminar isso tudo antes das duas da tarde. Agora é hora de conhecer o outro lado da cidade.

Vá para o templo dourado (kinkakuji 金閣寺), aqui um mapa de como ir.

O templo dourado é o templo mais famoso de Kyoto, talvez do Japão. É todo folheado a ouro e é muito bonito.

Kinkakuji


Após a visita, vá para o templo Ryoanji (竜安寺). A característica mais famosa deste templo é o seu jardim de pedras. Mapa de como chegar aqui

E assim termina o dia de visitas a templos em Kyoto, vale a pena ir a um bom restaurante depois de todos esses templos.